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Tribus Urbanas - um verdadeiro ESPETÁCULO

16 de maio de 2014

A noite de hoje teve como espetáculo (em todos os sentidos da palavra) a apresentação da Companhia Roda da Baraúna com a peça Tribus Urbanas. A apresentação começou pontualmente às 20h e parecia que a atriz Carolina Alexandra e banda estavam “fazendo um som” para recepcionar os expectadores. Mas a coisa não foi bem assim, ali já era a peça que em seu conteúdo envolve música e atuação.

 

Enquanto ela cantava, os demais atores estavam circulando pela praça como se estivessem em uma festa, um bar ou algo do tipo e ela era uma cantora da noite. Com aquele vozeirão super grave, Carol era acompanhada pelos músicos Fátima Melo (bateria/percussão) e Willame Silva (violão).

 

 

A proposta da peça é mostrar a diversidade das tribos que habitam os espaços urbanos da cidade e nesse contexto, a vida noturna foi mostrada de forma bem atual. Com um monte de gente no espaço, mas cada um no seu mundo. É o marido ciumento, a esposa histérica, o cidadão irritado e, claro, o desrespeito à quem canta na noite com uma enxurrada de pedidos de músicas que as pessoas que as pediu sequer presta atenção no artista que se apresenta. Ao final de cada tribo que se apresentava, uma música representava a situação e, nesse caso, a música escolhida foi “Blues da Piedade – Cazuza” que encaixou perfeitamente com a cena ali representada.

 

 

 

Outra tribo apresentada foi a de meninos de rua e suas realidades. Menores de idade que já têm a malandragem de ser protegido pela lei e tiram proveito dessa condição de “imune” à punições, adolescentes que se drogam nas ruas fugindo da realidade que os cerca, os loucos que se misturam e são marginalizados no próprio ambiente e que, no final, eles se devoram e se destroem para a própria sobrevivência.

 

 

Uma das tribos mais aplaudidas e ironizadas foi a da atuação e política na sociedade. Onde as promessas são sempre feitas, nunca cumpridas e a conveniência de “tratar bem” o eleitor é sinônimo de resultado nas urnas. Assim como a conveniência de fazer parte do sistema corrompe àqueles que eram “lutadores pelo mundo melhor” e cheios de ideologias que não são seguidas devido à conveniência das situações. Como dizia Cazuza na música ideologia que foi cantada ao final por Luan Almeida: “os meus sonhos foram vendidos tão baratos que eu nem acredito [...] que aquele garoto que ia mudar o mundo frequenta agora Grand Monde [...] Aquele garoto que ia mudar o mundo agora assiste tudo em cima do mundo”.

 

 

Outra questão abordada foi a da exploração (no sentido literal da palavra) religiosa. O uso das crenças e da fé para benefício próprio. Assim como outras religiões que são marginalizadas possuem seus espaços e no ambiente social elas se misturam quer as pessoas queiram ou não. Para figurar esse quadro, a música Jesus (Ney Matogrosso e Pedro Luiz e a Parede) foi cantada expressivamente por Luan principalmente ao falar “vamos tirar Jesus da Cruz, porque o rapaz está pregado naqueles pedaços de pau há mais de dois mil anos, vamos deixar ele com os pés e as mãos livres que ele vai pular, dançar virar cambalhota e fazer muito melhor”. O calor da voz ao falar essa frase foi contagiante e profundamente expressivo.

 

 

A abordagem dos travestis, prostitutas e pessoas de “vida fácil” foi um momento marcante e engraçado ao mesmo tempo. O ator Leandro Medeiros que representou o travesti arrancou muitas risadas do público mas mostrou o drama desse papel na sociedade que é visto como “falta de vergonha”, “falta de surra”, “desocupado” e ainda há aqueles que, na hora de usufruir, esquecem o papel que ele representa na sociedade mas depois o marginaliza. Assim como as prostitutas que são “a privada da sociedade”, como dito por Aline Cordeiro que representava a prostituta que refletia as situações pela qual vinha passando com essa vida. “Não sou só um corpo, sou diferente mas mereço um espaço, oportunidade, mas a sociedade me joga para a prostituição, somos a tribo dos trabalhadores do Sexo, garotas de programa, damas da noite” ... “Se eu morresse ninguém ia se incomodar”... entre outras falas fortes que retratavam os dramas de quem vive da prostituição. E para ilustrar essa cena, a música Folhetim de Chico Buarque muito bem interpretada por Carolina.

 

 

E para fechar, o apelo à valorização da arte. Do gosto pelo bom gosto. “Eu não gosto do bom gosto, do bom senso, dos bons modos” “em volta dessas mesas, em volta da cidade, nossas armas estão na rua é um milagre, elas não matam ninguém”. A música que fechou o espetáculo foi Miséria de Adriana Calcanhoto/Cazuza e outros. Uma excelente forma de cantar que as “riquezas são diferentes” e a “miséria é miséria em qualquer canto”.

 

 

Ao final, a Companhia foi aplaudida de pé com direito a muitos assobios e calor humano que não queria cessar a chuva de palmas. Algo tão caloroso que era fácil perceber no rosto dos atores a sensação do dever cumprido. O reconhecimento do público foi evidente.

 

 

Não é a primeira vez que a companhia apresenta Tribus Urbanas em Paulo Afonso mas, certamente, foi a que deixou um registro mais forte na percepção dos expectadores que agradeceram o presente recebido na noite que foi a qualidade de conteúdo, atuação e produção da Companhia de Teatro Roda da Baraúna.

 

 

Ao final, a diretora Dolores Moreira agradeceu a receptividade do público e anunciou que em breve o projeto “Sala do Espelho” irá circular pelas casas das pessoas em espetáculo com até 5 atores. Fiquem atentos e acompanhe a programação.

 

 

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Por Ana Paula Araujo

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Fotos: Klycinha Nascimento

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